The Age Of Innocence



Martin Scorsese, "The Age Of Innocence", 1993


Ach, ich fühl's


«Die Zauberflöte», K620,
Wolfgang Amadeus Mozart, Johann Emanuel Schikaneder.
Pamina : Gundula Janowitz, Aix en Provence, 1963


Ach, ich fühl's, es ist verschwunden,
Ewig hin der Liebe Glück!
Nimmer kommt ihr Wonnestunde
Meinem Herzen mehr zurück!
Sieh', Tamino, diese Tränen,
Fließen, Trauter, dir allein!
Fühlst du nicht der Liebe Sehnen,
So wird Ruh' im Tode sein!

Ich habe genug



Ich habe genug,
Ich habe den Heiland, das Hoffen der Frommen,
Auf meine begierigen Arme genommen;
Ich habe genug!
Ich hab ihn erblickt,
Mein Glaube hat Jesum ans Herze gedrückt;
Nun wünsch ich, noch heute mit Freuden
Von hinnen zu scheiden.

Caim

(...)De Abel sabe-se que era pastor. O seu irmão Caim era agricultor e oferecia a Deus em sacrifício uma parte da colheita. Abel quis também oferecer alguma coisa: «Também ele», "gam hu" diz a narração. E não tendo primícias, ofereceu os primogénitos do seu gado. É a primeira vez, e por isso Deus volta-se para esta nova espécie de sacrifício. As traduções aqui falam duma preferência, de um tratamento de favor da parte de Deus. Mas a escritura hebraica usa aqui um verbo bastante raro, "sha'à" (15 casos), que estará duas vezes na boca de Job quando, extenuado pelo sofrimento, grita a Deus: «Como não te afastas de mim, e nem ao menos permites que engula a minha saliva?» (Job 7,19) E ainda mais um igual convite a deixar em paz o homem, a não fincar nele o olhar: «Desvia-te dele, para que repouse» (Job 14,6). E também David no salmo 39 pede com um verbo categórico a Deus: «Desvia-te de mim para que eu me restabeleça» (Sl 38,14). Não é um olhar de favor o de Deus sobre Abel, mas Caim interpreta-o assim porque a oferta atraiu a atenção de Deus, afastando-se das primícias por ele trazidas. E Deus toma consciência daquele sentimento furioso e procura avisar Caim de que nele existe um mal que está a crescer como uma inundação: chama àquela febre "teshuká", uma enchente de águas que transbordam.
Mas aquele irmão Abel tirou-lhe algo mais, intrometendo-se entre ele e Deus. Matá-lo será um acto de puríssima inveja. Porque é esta desde o início a relação entre Deus e o ser humano: de amor exclusivo e recíproco, ao ponto de escrever nas palavras do Sinai que Deus é "El kanná", Deus invejoso que não admite infidelidade.
A esta paixão sucumbe, Abel, ignorante, que no fundo imitava Caim nas ofertas, porque desejava a mesma coisa: ser também ele apaixonadamente amado por Deus.




«que diabo de deus é este que, para enaltecer abel, despreza caim
José Saramago